Eu tinha tantos sonhos quando criança....
Tantos que me deixavam em constante estado de transe.
Eu nunca estava lá, nas conversas chatas dos adultos, nem
nas reuniões de famílias. Eu estava sempre em outro lugar, viajando em alguma
fantasia, correndo com uma capa, mesmo que só estivesse sentada no sofá. Balançando
meus pés que ainda não alcançavam o chão, eu me imaginava em perigo como se
fosse cair em um precipício.
Eu nem precisa de um super herói para me resgatar, porque eu
sabia voar. Eu detinha todos os super poderes. Eu era invencível.
Eu me esforçava para ser igual às outras crianças para que
minha mãe não descobrisse minha identidade secreta, uma viajante de outra galáxia
espiando este mundo de adultos tão insossos.
Até eu perder minha identidade secreta, ela nunca me
descobriu.
E numa manhã sombria, alguém bateu na minha janelinha da
imaginação e sussurrou: é hora de acordar, você cresceu.
Dai assumi outra identidade, menos divertida, sem capas, e
bem menos colorida. A super identidade de
Adulta. Que me permitia passar batom
vermelho e as roupas se encaixavam perfeitamente em meu corpo.
Adulta insossa e tão sem graça. EU. GRANDE.
Mas demorou só um pouquinho para que eu descobrisse que até
adultos insossos não perdem a vontade de sonhar, e ânsia de imaginar.
E melhor ainda, agora eu posso realizar os meus sonhos e
acredite todos eles... até voar, de uma maneira diferente da que eu imaginava,
mas ainda assim alcançar o céu.
E posso ter novos sonhos e novas formas de fantasiar.
Mas nem todos os adultos sabem disso, é por isso que alguns
se tornam tão amargurados. Eles cortam o fio que os une a fantasia.
Não há sonhos que sobrevivam a isso.
E eu não consigo me imaginar vivendo sem ainda ser um pouco
criança. Sem magia, não há vida.
Anica Gonçalves